Relato de vivência de T’ai-chi Chuan na Silvio Porto


Alice Lumi Satomi 

O Programa “Mais saúde na comunidade”, da COEP – Coordenação de Educação Popular, ligada à PRAC – Pró- Reitoria de Assuntos Comunitários da UFPB, convidou o Grupo de T’ai-chi chuan do Projeto Cultura oriental para uma vivência com cerca de quinze apenados da Penitenciária Desembargador Silvio Porto, no bairro de Mangabeira, na última sexta-feira, 13 de maio, dia da libertação dos escravos.
A equipe que acompanhou o projeto coordenado pelo Prof. Dailton reunia funcionários estudantes de diversas áreas fisioterapia, direito, medicina, teatro e a nossa equipe, estudantes e professores de música e educação física. Foi o segundo encontro do Programa que visa o “cuidado em saúde da família e do trabalhador e inclusão”, através de práticas integrativas. Daí a necessidade de uma ação interdisciplinar.
Chegamos perto das 16 horas e o sol ainda estava quente. Nos reunimos numa sala um pouco apertada onde fizemos um círculo integrando a equipe e os apenados. Camuflando um pouco de ansiedade, de nossa parte, tudo ocorreu de maneira tranquila e descontraída. Após apresentação de cada um, enquanto praticávamos a Ginástica das nove dobras, palavras soltas ditas sobre o T’ai-chi Chuan: relaxamento, meditação, autoconhecimento, equilíbrio. Trabalhamos a soltura das articulações da nuca, ombros, cintura e quadris, joelhos e tornozelos.
Com o sol mais ameno, nos dirigimos até o pátio. O céu estava especial, repleto de pequenos tufos de nuvens. Eu fiquei de costas para um dos pavilhões e os dois monitores do Taichi ficaram nas pontas de fileiras alternadas de frente para mim. Com mais espaço fizemos os dois últimos exercícios da série iniciada: quebrando o silêncio, os chutes dianteiro, lateral e traseiro, eram impulsionados com a emissão das sílabas. O vigor dos , hi e hu descontraiu mais o grupo e atraiu a atenção dos vigias, funcionários e rostos cujas mãos seguravam as grades do pavilhão traseiro. Finalizando as dobras o movimento da “sucuri que gira o corpo”.
Retomando a quietude vivenciamos quatro formas de energização Chi-kung: postura dos cinco elementos, respiração da tartaruga, do grou e o passo do grou. Da sequência dos 36 movimentos do estilo Pai Lin, planejava repassar só as primeiras formas, mas conseguimos seguir mais adiante da primeira parte, pois todos estavam muito atentos e concentrados. Parecia até que já conheciam, tamanha harmonia e capacidade de acompanhar a movimentação e a meditação.
Palavras chaves ditas no final: harmonia, autocontrole, consciência corporal, leveza, esperança. Esse foi o grande presente e retorno. Ao ser indagado pelo coordenador sobre as próximas atividades, muitos se interessaram por atividades como dança, teatro. Em música um deles explicou que faz parte do coral e é compositor. Mostrou sua canção com arte e sensibilidade, dedicada ao Dia da Mulher.
Agradeço ao prof. Dailton pela oportunidade de, no dia da liberdade, conhecer o outro lado do muro e levar essa técnica da longevidade para essas pessoas que estão penalizadas a diminuir o tempo de convívio com o seu meio. Deu mais sentido ao trabalho de extensão.

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