T'ai-chi chuan: Céu, Terra e Homem


Alice Lumi Satomi (1995)

A prática do T'ai-chi chuan, técnica milenar chinesa, vem se compatibilizando cada vez mais aos interesses do homem moderno ocidental - consciente das consequências do estresse - pois é valorizada como a "arte da longevidade" e "terapia psicossomática", ou seja, o equilíbrio entre corpo e mente.

Este artigo pretende elucidar a proposta do T'ai-chi, que não pode ser dissociada da filosofia taoísta.
O aprendizado do T'ai-chi chuan não ocorre assimilando apenas os exercícios corporais preparatórios, bem como a sequência de movimentos suaves, lentos e circulares. Praticar T'ai-chi é antes de tudo ser T'ai chi. E o que seria "ser T'ai-chi"?

Segundo o mestre Liu Pai Lin, na concepção taoísta o homem é um dos incontáveis frutos da natureza, isto é, um "microcosmo do universo". No macrocosmo a energia do Céu (yang) e da Terra (yin) se unem diariamente", assim como "o sol, a lua e as estrelas se unem com a água, o fogo e o vento da terra." - estes elementos podem explicar a existência do trovão, da montanha e do lago (e, consequentemente todos os seres vivos) que, juntos aos seus geradores, céu, terra, água, fogo e vento, formam os oito trigramas básicos da natureza. Assim, "quando relaxamos o sol do nosso céu, a energia da cabeça se irradia pelo corpo, iluminando a nossa terra" onde ficam as nossas vísceras. Esta união yin e yang no homem proporciona a renovação da energia ou sopro vital, das células, dos tecidos, dos sistemas orgânicos, dos sentidos e das emoções, garantindo a saúde de nosso corpo físico, do nosso cérebro e, principalmente, da nossa energia espiritual.

     "O movimento de rotação da Terra, renova o ar impregnando novo frescor a todas as coisas. 
        O ser humano pertence à Natureza.  Obtendo ar puro o sangue se renova e o espírito
            fica límpido. E desta forma, obtemos este sentimento de amor à Natureza."
 (Pai Lin, 1986).

Eis os nomes de algumas posturas ou movimentos do t'ai-chi-chuan: pés paralelos como a margem do rio, lento como o movimento das nuvens, oito cavo mantendo a humildade, abraçar a árvore ou abraçar o universo, união céu, terra e homem, acompanhar a cauda do pássaro, cegonha recua e estende as asas, tocar o alaúde e empurrar a moenda, abraçar o tigre e regressar à montanha, repelir o macaco, colher agulha no fundo do mar, cavalo selvagem joga a crina, galo dourado num pé só, voar obliquamente, brandir as mãos nas nuvens, punção sete estrelas, recuar e montar o tigre.

Particularmente, o experiência do t'ai-chi é um ritual, a coreografia de uma poesia em tributo à natureza. E Pai Lin (1986) conclui: dessa forma, "estamos nos ligando à natureza". Ao aprender a respeitá-la e amá-la, nos são restituídos: a serenidade, a integridade, a humildade, "a força criadora, a naturalidade do amor no coração e a pureza do ser".


1. Despeux, Catherine: T'ai-chi Chuan: arte marcial, técnica da longa vida. São Paulo: Pensamento, 1981
2 Transcrição do depoimento de abertura do mestre Liu Pai Lin no video T'ai-chi: Movimento, Saúde e Longevidade. São Paulo: Tapiri Video, 1986.
3 Para saber mais sobre trigramas ver o I Ching, ou Livro das Mutações.

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